Dez anos depois de estabelecer o
continente como prioridade, chineses se transformam nos principais parceiros
econômicos dos africanos
13 de fevereiro de 2011 | 17h 16
ARGEL - Pequim lançou o primeiro satélite
nigeriano, construiu os novos prédios da administração pública na Argélia,
terminou a estrada que Osama Bin Laden começou no Sudão antes de fugir para o
Afeganistão, construiu mais de 100 escolas pela África e financia até mesmo
prisões para que ditadores africanos silenciem a oposição. Nada disso vem por
acaso.
Dez anos depois de estabelecer a África como uma de
suas prioridades, a China transforma o mapa do continente negro, passa a ser o
principal parceiro econômico dos africanos e supera pela primeira vez as
ex-potências coloniais.
Em declarações ao Estado, ex-presidentes africanos,
especialistas e os próprios empresários chineses confirmam: a China está
comprando seu futuro na África.
O continente hoje é visto pelos chineses
simplesmente como o trampolim para permitir que a China, que já é a segunda
economia do mundo, tenha acesso a recursos naturais, alimentos e energia para
manter seu ritmo de crescimento nas próximas décadas e eventualmente superar a
economia americana.
Assim como o faroeste promoveu a transformação econômica
e produtiva dos Estados Unidos e deu acesso a novas fontes de recursos naturais
há mais de um século, a África hoje cumpre esse papel para a China, que
acredita que, em 20 anos, se abastecerá de 50% de sua energia do continente.
Para obter esse acesso, Pequim é obrigada a lidar
com governos corruptos, ditadores e Estados falidos. A estratégia é clara: não
fazer perguntas sobre assuntos domésticos nem exigir, como faz o Banco Mundial,
compromissos com a democracia ou com transparência nas contas do Estado.
A tática começa a dar resultados concretos. O ano
de 2010 fechou pela primeira vez com um comércio de US$ 100 bilhões entre os
dois novos parceiros. O fluxo simplesmente se multiplicou por dez em apenas dez
anos.
Num "safári" sem precedentes, a China
rompeu monopólios europeus nos países africanos, injetou novo crescimento nas
economias da região e abriu uma nova lógica na África, exatamente no momento em
que o continente marca os 50 anos da descolonização.
Estratégia. Com recursos de US$ 2,4 trilhões do Estado e sem
nenhum complexo em afirmar que se trata de um projeto de Estado, a estratégia
chinesa na África não se limita a estabelecer uma "colônia de
exploração". A constatação de todos é clara: a China desembarcou na África
para ficar e já são 800 mil os chineses vivendo no continente.
Muitos são comerciantes e industriais que querem
aproveitar que a África já tem salários mais baixos que os da China para montar
sua base de manufatura. A meta é ter 50 zonas industriais chinesas na África em
dez anos. Outra constatação é a invasão de produtos chineses nas prateleiras
dos supermercados, garantindo um avanço na relação com as autoridades e
entrando nas casas de milhões de africanos.
Outra realidade que literalmente muda a paisagem é
o desembarque das construtoras chinesas, financiadas pelo tesouro de Pequim
para simplesmente ganhar todas as obras em licitação pública. Empresas
brasileiras, como a Camargo Gutierrez, não escondem as dificuldades em competir
com os chineses por contratos hoje na África.
Jamil Chade, enviado especial - economia.estadao.com.br
(postado por Maria Aparecida Tirapani)
0 comentários:
Postar um comentário